Muita gente ainda subestima o impacto da alimentação enquanto se enfrenta um tratamento oncológico. Mas eu vejo, todos os dias, como isso pode fazer diferença para quem está nessa jornada.

Essa semana me contaram de alguém saudável, usando Mounjaro para emagrecer, que precisou ser internado por não conseguir comer ou beber por vários dias. Imagina o que isso pode significar para alguém com câncer, já fragilizado, com o corpo exigindo energia para lutar.

A desnutrição durante a quimioterapia é mais comum do que se costuma admitir. Mas é algo que a gente consegue prevenir — e cuidar. Mesmo quando o corpo está pedindo descanso, existem estratégias práticas que ajudam a manter força, ânimo e saúde.

Por que a nutrição é tão essencial durante o tratamento

O corpo já está sob muito estresse
Tratamentos como quimioterapia, cirurgia ou radioterapia demandam bastante do organismo. Eles atacam não só o tumor, mas também células saudáveis, e isso gera efeitos colaterais como náuseas, alteração no paladar, cansaço intenso. Todos esses sinais podem reduzir o apetite ou dificultar a ingestão de alimentos.

A desnutrição piora os resultados
Quem está desnutrido tende a tolerar menos bem os tratamentos, ter recuperação mais lenta, risco maior de complicações e até tempo de internamento mais longo.
Em certos estudos, a desnutrição já está presente no momento do diagnóstico em muitos pacientes, isso mostra que não dá para deixar para depois.

Alimentação adequada ajuda no controle dos efeitos colaterais
Ajustes na dieta podem aliviar sintomas como náuseas, vômitos, alterações de paladar, boca seca, mucosite (feridas na boca), dificuldade para engolir. São pequenos incômodos, mas que pesam bastante no dia a dia.

Recuperar ou manter massa muscular e energia
Proteínas, calorias suficientes, hidratação, micronutrientes (vitaminas, minerais) ajudam a preservar músculos, permitir que o corpo suporte melhor o tratamento, ter mais disposição.

Algumas práticas que ajudam mesmo nos dias mais difíceis

  • Fracionar as refeições: em vez de três grandes refeições, comer mais vezes ao dia, em porções menores, pode tornar mais fácil ingerir algo, mesmo que só um pouco.

  • Alimentos com energia densa: usar opções nutritivas que entreguem mais calorias e proteínas num volume menor, como purês nutritivos, shakes, suplementos orais quando indicados.

  • Escolhas que respeitam o paladar do momento: pode haver gosto metálico, sensibilidade a cheiros ou texturas — adaptar receitas, temperos suaves, texturas mais macias pode fazer diferença.

  • Hidratar bastante: líquidos ajudam no processo, evitam desidratação, ajudam a manter o funcionamento do corpo, suavizar os efeitos do tratamento.

  • Suporte profissional: ter acompanhamento com nutricionista especializado em oncologia. Ele ou ela vai ajustar o plano alimentar conforme os efeitos do tratamento, suas necessidades, sintomas. Esse acompanhamento pode prevenir que a desnutrição se instale ou se agrave.

Conclusão

Você não está sozinho nessa. A alimentação não é apenas “coisa de saúde”, ela é parte do tratamento, parte da força que o seu corpo precisa para lutar. Cuidar da nutrição mesmo quando tudo parece difícil pode fazer muita, muita diferença.

Por Socorro Coêlho, nutricionista oncológica.

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