
Introdução
A nutrição oncológica não cura o câncer nem substitui tratamentos como quimioterapia ou radioterapia, mas seu impacto no bem-estar e na resposta ao tratamento é amplamente comprovado. A intervenção nutricional precoce ajuda a preservar massa muscular, manter o estado nutricional, fortalecer a imunidade e melhorar a qualidade de vida durante toda a jornada terapêutica.
Objetivo do estudo
Avaliar os efeitos da intervenção nutricional precoce em pacientes com câncer sobre toxicidade dos tratamentos, manutenção do estado nutricional, adesão ao tratamento e desfechos clínicos — com foco na qualidade de vida e sobrevida.
Metodologia e fontes
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Revisão de dados e diretrizes do Journal of Clinical Oncology, ASCO, e ESPEN, incluindo estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados.
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População analisada: pacientes com câncer em tratamento quimioterápico e/ou radioterápico.
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Avaliações incluíram: estado nutricional (peso, composição corporal), toxicidade, adesão ao tratamento, complicações e qualidade de vida relatada.
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Intervenção baseada em nutrição individualizada, com suplementação oral ou enteral conforme necessidade.
Evidências científicas e resultados esperados
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Revisões sistemáticas e guias da ESPEN confirmam que a desnutrição aumenta toxicidade e piora a qualidade de vida; 10% a 20% das mortes de pacientes com câncer estão relacionadas à má nutrição.
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Um estudo prospectivo com pacientes de cabeça e pescoço mostrou que orientação nutricional antes e durante quimiorradioterapia reduziu toxicidade e permitiu continuidade do tratamento com melhor qualidade de vida.
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Em câncer colorretal, pacientes que receberam intervenção nutricional individualizada apresentaram menos interrupções de quimioterapia, menores efeitos colaterais (náusea, trombocitopenia, síndrome mão-pé) e maior qualidade física ao final do tratamento.
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Revisões de intervenções dietéticas demonstram melhora no peso, ingestão de energia e proteína, estado nutricional e qualidade de vida.
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Meta-análises mostram que padrões alimentares de melhor qualidade estão associados com redução de até 23% da mortalidade total entre sobreviventes de câncer de mama e colorretal.
Resultados esperados
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Menor prevalência de desnutrição ao longo do tratamento.
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Redução da toxicidade nos protocolos quimioterápicos/radioterápicos.
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Menor ocorrência de atrasos ou interrupções terapêuticas.
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Preservação ou ganho de massa muscular e manutenção de peso adequado.
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Melhora na resposta imunológica e redução de complicações clínicas.
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Maior energia, força física e bem-estar emocional relatados pelos pacientes.
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Potencial impacto positivo na sobrevida devido à adesão mais eficiente ao tratamento.
Discussão
Mais de 50% dos pacientes com câncer apresentam desnutrição, condição que está diretamente ligada a piores desfechos clínicos. A intervenção nutricional precoce e personalizada, conforme diretrizes ESPEN e ASCO, é fundamental para mudar este panorama. Embora não substitua terapias oncológicas, essa abordagem científica e estruturada oferece benefícios reais e mensuráveis.
Conclusão
A intervenção nutricional precoce e individualizada é uma aliada estratégica e essencial no manejo do paciente oncológico. Ela reduz toxicidades, preserva o estado físico e imunológico e melhora a experiência do paciente ao longo do tratamento — fatores que podem refletir em qualidade de vida e sobrevida mais favoráveis.
Por Socorro Coelho, nutrionista oncológica.