No universo do câncer, especialmente em estágios avançados, as decisões alimentares podem impactar significativamente o prognóstico do paciente. A história de um paciente com câncer de próstata metastático nos ossos e fígado ilustra como mudanças alimentares radicais e não orientadas podem agravar a situação clínica.
O Perfil do Paciente e os Erros Alimentares
Dieta Pré-Diagnóstico:
O paciente mantinha uma alimentação rica em alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, carnes gordurosas e excesso de carboidratos refinados. Esse padrão alimentar está associado a um maior risco de progressão de células cancerígenas.
Restrições Pós-Diagnóstico:
Após o diagnóstico, o paciente eliminou abruptamente grupos alimentares inteiros, como açúcar, glúten, carnes e frutas. Essa restrição levou à desnutrição proteico-energética e perda muscular acelerada, agravada pela caquexia neoplásica comum em casos metastáticos.
Consequências:
Em apenas 30 dias, o paciente perdeu 10 kg, apresentou redução da imunidade e piora da qualidade de vida, fatores que comprometem a resposta ao tratamento.
Intervenção Nutricional: Mitos vs. Evidências
Avaliação Detalhada:
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Bioimpedância: Análise da composição corporal, incluindo massa muscular e gordura visceral.
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Rastreamento de Deficiências: Identificação de deficiências de micronutrientes como vitamina D, zinco e selênio, comuns em pacientes oncológicos.
Reestruturação Alimentar:
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Prioridade Proteica: Inclusão de carnes magras, ovos, leguminosas e, se necessário, suplementos hiperproteicos para combater a sarcopenia.
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Gorduras Saudáveis: Introdução de fontes de ômega-3, como salmão e sardinha, e azeite extra virgem para modular a inflamação.
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Antioxidantes: Consumo de alimentos ricos em licopeno, como tomate, vegetais crucíferos (brócolis, couve) e frutas vermelhas para neutralizar radicais livres.
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Carboidratos Complexos: Incorporação de batata-doce, arroz integral e quinoa para manter energia sem picos glicêmicos.
Mitos Combatidos:
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“Açúcar alimenta o câncer”: O problema reside no consumo de ultraprocessados, não nos carboidratos naturais.
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“Glúten deve ser evitado”: A exclusão do glúten só é necessária em casos de doença celíaca ou sensibilidade comprovada.
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“Frutas são prejudiciais”: Frutas fornecem fibras e fitoquímicos protetores, sendo aliadas na alimentação oncológica.
Protocolos Baseados em Evidências
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Dieta Mediterrânea: Este modelo alimentar combate a inflamação e oferece nutrientes sinérgicos, como azeite, peixes e vegetais.
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Monitoramento do Ângulo de Fase: Avaliação da integridade celular e resposta ao tratamento.
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Suplementação Estratégica: Utilização de whey protein, glutamina e vitamina D em casos de má absorção ou anorexia.
Lições-Chave
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Restrições Radicais Pioram o Prognóstico: A desnutrição acelera a perda muscular, reduz a tolerância à quimioterapia e aumenta os riscos de infecções.
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Personalização é Fundamental: Cada estágio da doença e tipo de tratamento exige ajustes específicos na dieta.
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Acompanhamento Contínuo: Reavaliações regulares são essenciais para adaptar a dieta à evolução clínica.
“O maior erro não é a falta de cuidado, mas o excesso de desinformação. Nutrição oncológica é ciência, não achismo.”
Plano de Ação para Pacientes
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Antes de Excluir Alimentos: Consulte um nutricionista oncológico.
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Foco na Qualidade: Priorize alimentos in natura e evite ultraprocessados.
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Meta Realista: Mantenha o peso estável e preserve a massa muscular, não apenas “comer saudável”.
Dra. Socorro Coelho
Nutricionista Oncológica